What is Nostr?
pollyanna
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2024-09-03 23:46:17

pollyanna on Nostr: eu escrevi isto há seis anos, mas fiquei com vontade de compartilhar aqui. alguns ...

eu escrevi isto há seis anos, mas fiquei com vontade de compartilhar aqui.

alguns meses antes da morte do meu avô percebi que ele estava estranho comigo em uma confraternização da família. não disse nada, mas queria muito saber o que o afligia. em algum momento ele me chamou para conversar. seus olhos marejados fitaram os meus e ele abriu seu coração, dizendo o que lhe chateava e o que ele gostaria que acontecesse.

aquele foi um dos encontros mais potentes que tive com ele. eu nunca tinha visto meu avô chorar. sempre o via rindo e contando piadas, nunca o lado sensível aparecera - até aquele dia.

a primeira vez que vi meu pai em uma posição de fragilidade fiquei muito assustada. até então eu o imaginava como alguém imune às dificuldades da vida. depois de um tempo o vi chorar no enterro da minha avó, sua mãe. esses dois momentos de vulnerabilidade me marcaram muito, também.

sempre fui muito dura com meu pai, desde criança. era como se eu acreditasse que ele aguentava qualquer coisa que eu dissesse. como se ele não se sensibilizasse a ponto de se entristecer com as coisas que eu apontava. ele demonstrava raiva com frequência, fazia piadas de tudo, parecia não ligar para meus dramas e eu acreditei que aquilo que eu via era ele inteiro.

mas agora, e apenas agora, eu considero suas emoções escondidas. a tristeza que em algumas fotos eu pude ver em seu olhar. o medo que devia sentir em situações variadas, mas que eu nunca percebi. tudo o que eu via como fragilidade, mas que na verdade são emoções humanas válidas e legítimas - também quando sentidas por homens.

há um tempo tenho olhado para os homens com quem compartilho esta vida e vejo que muitos não se sentem livres para expressar suas emoções genuinamente. acreditam que têm um papel a cumprir e que precisam se comportar sem demonstrar vulnerabilidade pra que o alcancem adequadamente.

e eu tenho visto as minhas ações que os sustentam nesse lugar. tenho olhado pro meu próprio medo, para quantas vezes deleguei a eles a preocupação com minha segurança, para o quanto me doía vê-los tristes, como se isso fosse ruim. tenho olhado para os papeis de vítima que assumi.

hoje eu quero dizer que eu acolho, aceito e agradeço a vulnerabilidade dos homens, desejando que eles tenham a oportunidade de se encontrar com suas emoções negligenciadas e escondidas. que eles se sintam confortáveis para acolher as outras pessoas, sem precisar se preocupar em protegê-las. que eles possam lidar com o sofrimento alheio sem precisar encontrar uma piada que lhes pareça compatível. que eles possam rir, brincar de forma natural, sem tentar esconder o que de fato sentem. que eles se sintam livres para se expressar de maneira genuína, conforme seus desejos mais profundos.
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