Eli Vieira on Nostr: O senso de comunhão de um indivíduo com seus ancestrais e descendentes biológicos ...
O senso de comunhão de um indivíduo com seus ancestrais e descendentes biológicos é muito forte. Religiões inteiras são baseadas em venerar os ancestrais e, em um famoso adágio romano, diz-se que é admirável o homem idoso que planta uma árvore à sombra da qual jamais descansará.
O nexo entre mortos, vivos e os que ainda não nasceram é elevado como uma das principais marcas positivas do conservadorismo pelo filósofo britânico Roger Scruton.
Esses são bons insights, mas acredito que um entendimento mais exato da ancestralidade pela genética nos ajuda a complexificar as coisas, talvez bagunçar, talvez ajudar a formar uma imagem até mais inspiradora.
Comecemos pelo número de ancestrais que temos. Dois pais, quatro avós, oito bisavós... é como tomar uma árvore pelo tronco e ir contando galhos e ramificações. A impressão é que há mais gente no passado do que agora, o que obviamente não é verdade.
Como há menos gente no passado que agora, a conclusão é que a herança genética precisa ser compartilhada. Até aqui, tudo muito óbvio.
Como sabemos que o material genético é feito de uma macromolécula em 46 fitas longas contendo um "texto molecular", podemos calcular quanto o indivíduo de uma geração contribui para as próximas.
Não importa quantos filhos você tenha, a sua contribuição em cada um será de 50%. Em 175 anos, se a linhagem não for rompida, a sua contribuição cairá para 1%. Em uma mesma população, todos os que tiveram filhos serão igualmente aparentados a todos os viventes quando se passam um a dois mil anos.
Aristóteles morreu há 2346 anos. Ele deixou ao menos um filho, Nicômaco, a quem ele aconselha em sua famosa obra sobre ética. Se Nicômaco deixou descendentes até hoje, nada especialmente distintivo geneticamente de Aristóteles restou, e na verdade seus descendentes são também igualmente descendentes do orador Demóstenes, o primeiro defensor da liberdade de expressão como fundacional para a democracia, caso ele tenha tido filhos. Também são igualmente descendentes dos escravos, serviçais, políticos corruptos e crápulas que Aristóteles odiava.
Se Aristóteles tivesse confiado seu legado completamente à genética, portanto, seria um legado quase completamente perdido. Mas ele dedicou sua vida à filosofia, e suas obras são hoje representantes mais fiéis de quem ele foi do que qualquer trecho de DNA. Nada mal para coisas "simbólicas", tidas como "menos reais" que moléculas nesta era de técnica científica.
Ter filhos ainda é importante, claro, para a continuidade da espécie, que em si é algo de grande valor, para que a "consciência" se expanda no Universo, como diz Elon Musk. Todos os que participam da continuidade da espécie estão fazendo algo de valor hoje, mesmo que sua contribuição diferencial seja bem pequena daqui a dois mil anos.
Mas nada substitui a entrega ativa a projetos de valor, como a de Aristóteles à filosofia, para destacar acima do limiar genético a vida do indivíduo.
O nexo entre mortos, vivos e os que ainda não nasceram é elevado como uma das principais marcas positivas do conservadorismo pelo filósofo britânico Roger Scruton.
Esses são bons insights, mas acredito que um entendimento mais exato da ancestralidade pela genética nos ajuda a complexificar as coisas, talvez bagunçar, talvez ajudar a formar uma imagem até mais inspiradora.
Comecemos pelo número de ancestrais que temos. Dois pais, quatro avós, oito bisavós... é como tomar uma árvore pelo tronco e ir contando galhos e ramificações. A impressão é que há mais gente no passado do que agora, o que obviamente não é verdade.
Como há menos gente no passado que agora, a conclusão é que a herança genética precisa ser compartilhada. Até aqui, tudo muito óbvio.
Como sabemos que o material genético é feito de uma macromolécula em 46 fitas longas contendo um "texto molecular", podemos calcular quanto o indivíduo de uma geração contribui para as próximas.
Não importa quantos filhos você tenha, a sua contribuição em cada um será de 50%. Em 175 anos, se a linhagem não for rompida, a sua contribuição cairá para 1%. Em uma mesma população, todos os que tiveram filhos serão igualmente aparentados a todos os viventes quando se passam um a dois mil anos.
Aristóteles morreu há 2346 anos. Ele deixou ao menos um filho, Nicômaco, a quem ele aconselha em sua famosa obra sobre ética. Se Nicômaco deixou descendentes até hoje, nada especialmente distintivo geneticamente de Aristóteles restou, e na verdade seus descendentes são também igualmente descendentes do orador Demóstenes, o primeiro defensor da liberdade de expressão como fundacional para a democracia, caso ele tenha tido filhos. Também são igualmente descendentes dos escravos, serviçais, políticos corruptos e crápulas que Aristóteles odiava.
Se Aristóteles tivesse confiado seu legado completamente à genética, portanto, seria um legado quase completamente perdido. Mas ele dedicou sua vida à filosofia, e suas obras são hoje representantes mais fiéis de quem ele foi do que qualquer trecho de DNA. Nada mal para coisas "simbólicas", tidas como "menos reais" que moléculas nesta era de técnica científica.
Ter filhos ainda é importante, claro, para a continuidade da espécie, que em si é algo de grande valor, para que a "consciência" se expanda no Universo, como diz Elon Musk. Todos os que participam da continuidade da espécie estão fazendo algo de valor hoje, mesmo que sua contribuição diferencial seja bem pequena daqui a dois mil anos.
Mas nada substitui a entrega ativa a projetos de valor, como a de Aristóteles à filosofia, para destacar acima do limiar genético a vida do indivíduo.