KarlZardel on Nostr: "O Curral" - José Sampaio São pequeninas casas espremidas num inconsciente abraço ...
"O Curral" - José Sampaio
São pequeninas casas espremidas
num inconsciente abraço de miséria.
É de se crer que foram construídas
por centenas de braços cadavéricos
e cérebros doentes.
Tanto assim que o "Curral" vive agachado
numa faixa de terra doentia.
À noite aquelas casas decadentes
são como um batalhão de seres hediondos
vestindo a farda suja da fome...
O "Beco do Veneno" no "Curral"
é uma rua povoada de gemidos
como um monstro horrendo.
Não é a rua dos mestiços
nem dos pretos,
nem dos pobres.
É uma rua dos miseráveis,
dos aleijados de doenças.
Dos que um dia enlouqueceram,
divertiram a cidade
e chegaram depois
pelos braços de um mendigo generoso.
No "Curral" os que não podem caminhar
ficam agachados nos batentes.
E aos que passam por acaso
estiram a mão de dedos de graveto
como um calado grito de socorro.
Perdem depois o movimento
e ficam como cadáveres.
O "Curral" é o cemitério dos vivos.
(1935)
São pequeninas casas espremidas
num inconsciente abraço de miséria.
É de se crer que foram construídas
por centenas de braços cadavéricos
e cérebros doentes.
Tanto assim que o "Curral" vive agachado
numa faixa de terra doentia.
À noite aquelas casas decadentes
são como um batalhão de seres hediondos
vestindo a farda suja da fome...
O "Beco do Veneno" no "Curral"
é uma rua povoada de gemidos
como um monstro horrendo.
Não é a rua dos mestiços
nem dos pretos,
nem dos pobres.
É uma rua dos miseráveis,
dos aleijados de doenças.
Dos que um dia enlouqueceram,
divertiram a cidade
e chegaram depois
pelos braços de um mendigo generoso.
No "Curral" os que não podem caminhar
ficam agachados nos batentes.
E aos que passam por acaso
estiram a mão de dedos de graveto
como um calado grito de socorro.
Perdem depois o movimento
e ficam como cadáveres.
O "Curral" é o cemitério dos vivos.
(1935)