Ayalah on Nostr: "A beleza sempre tem um elemento de estranheza. Não quero dizer uma forma fria ...
"A beleza sempre tem um elemento de estranheza. Não quero dizer uma forma fria deliberada de estranheza, pois nesse caso seria uma coisa monstruosa que tivesse saltado os trilhos da vida. Mas quero dizer que ela sempre contém um certo grau de estranheza, de estranheza simples, não intencional, inconsciente, e que essa forma de estranheza é o que lhe dá o direito de ser chamada de beleza. É sua marca registrada, sua característica especial. Inverta a proposição e tente imaginar uma beleza comum! E como essa estranheza necessária, incompressível, infinitamente variada, dependente do ambiente, clima, hábitos, raça, religião e temperamento do artista, poderia ser controlada, alterada, corrigida por regras utópicas, excogitada em algum pequeno templo ou outro de aprendizado em algum lugar do planeta, sem perigo mortal para a própria arte? Esse elemento de estranheza que constitui e define a individualidade, sem a qual não há beleza, desempenha na arte (e que a precisão dessa comparação desculpe sua trivialidade) o papel do gosto ou do sabor na culinária; se a utilidade individual ou o grau de valor nutritivo que contêm forem excetuados, os alimentos diferem uns dos outros apenas pela ideia que revelam à língua."
[Charles Baudelaire, Journaux Intimes]
Published at
2025-02-10 02:02:02Event JSON
{
"id": "139811694eb3132559129eb28d869a093ea6fcc23b3d7ec16a0f9cd94b6d5fa1",
"pubkey": "69e4fc3f6f2fdbb36b13dc08ef541537accd3fda650bdad38e207b54ec9b15af",
"created_at": 1739152922,
"kind": 1,
"tags": [],
"content": "\"A beleza sempre tem um elemento de estranheza. Não quero dizer uma forma fria deliberada de estranheza, pois nesse caso seria uma coisa monstruosa que tivesse saltado os trilhos da vida. Mas quero dizer que ela sempre contém um certo grau de estranheza, de estranheza simples, não intencional, inconsciente, e que essa forma de estranheza é o que lhe dá o direito de ser chamada de beleza. É sua marca registrada, sua característica especial. Inverta a proposição e tente imaginar uma beleza comum! E como essa estranheza necessária, incompressível, infinitamente variada, dependente do ambiente, clima, hábitos, raça, religião e temperamento do artista, poderia ser controlada, alterada, corrigida por regras utópicas, excogitada em algum pequeno templo ou outro de aprendizado em algum lugar do planeta, sem perigo mortal para a própria arte? Esse elemento de estranheza que constitui e define a individualidade, sem a qual não há beleza, desempenha na arte (e que a precisão dessa comparação desculpe sua trivialidade) o papel do gosto ou do sabor na culinária; se a utilidade individual ou o grau de valor nutritivo que contêm forem excetuados, os alimentos diferem uns dos outros apenas pela ideia que revelam à língua.\"\n\n[Charles Baudelaire, Journaux Intimes]",
"sig": "ba3ad00864d343fe3e1befe2b978910ace836fabbd3a898991534236de24cf7b9272fcf44b0c6238c874d47a9fb34a128a4765883ac9682dc9d7ceddc95674d8"
}