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Investigação da PF aponta como padre de Osasco colaborou na elaboração da
minuta e até criou 'oração ao golpe'
Padre José Eduardo está entre os 37 indiciados pela Polícia Federal no inquérito sobre a tentativa de golpe. Em fevereiro deste ano, ele foi alvo da operação Tempus Veritatis. O padre José Eduardo de Oliveira e Silva, da Diocese de Osasco, na Grande São Paulo
Reprodução/Redes Sociais
O relatório final da investigação conduzida pela Polícia Federal sobre uma tentativa de golpe de Estado em 2022, no fim do governo Bolsonaro, aponta como o padre José Eduardo de Oliveira e Silva, da Diocese de Osasco, colaborou na elaboração da minuta e até criou uma espécie de "oração ao golpe" em que pedia que os brasileiros incluíssem os nomes de 17 generais e do ministro da Defesa em suas preces.
O padre José Eduardo está entre os 37 indiciados pela Polícia Federal no inquérito sobre a tentativa de golpe. Em fevereiro deste ano, ele foi alvo da operação Tempus Veritatis.
Na época, o padre foi informado pela PF que teria que cumprir medidas cautelares para não ser preso. Entre as medidas estão: a proibição de manter contato com os demais investigados da operação e o compromisso de não se ausentar do país e entrega de todos os passaportes, nacionais e estrangeiros.
O documento, que tem mais de 800 páginas, reúne as conclusões da PF sobre uma trama, arquitetada pelo entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), para frustrar a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em janeiro de 2023.
Em relação ao padre, ele é citado como integrante do núcleo jurídico do esquema. Os investigadores apontam evidências de que ele mantinha contato com Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro preso em fevereiro, e Amauri Feres Saad, advogado citado na CPI dos Atos Golpistas como "mentor intelectual" da minuta encontrada com Anderson Torres, ex-ministro da Justiça.
O contato entre os três é demonstrado em uma série de mensagens trocadas pelo WhatsApp e e-mails. Além disso, o padre tinha os contatos de Filipe e Amauri salvos no celulares. Também foi encontrada uma foto publicada nas redes sociais do padre com Filipe Martins.
Outra evidência apontada no relatório é que o padre esteve em Brasília em novembro e dezembro de 2022, passando pelo comitê de campanha de Bolsonaro e também pelo Palácio do Alvorada.
Segundo a PF, o padre esteve em uma reunião no dia 19 de novembro de 2022 com Filipe Martins e Amauri Saad, como indicam os controles de entrada e saída do Palácio do Planalto.
O encontro, segundo o inquérito da PF, fazia parte de uma série de discussões convocadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para tratativas com militares de alta patente sobre a instalação de um regime de exceção constitucional.
A PF também aponta que o padre enviou, em 25 de novembro de 2022, um e-mail com um arquivo nomeado "Saad-Artigo 142.pdf". O documento enviado em anexo remete a um artigo acadêmico produzido por Amauri Saad.
"Em síntese, o artigo aborda a aplicação do Artigo 142 da Constituição Federal de 1988 como um mecanismo para enfrentar crises constitucionais, conferindo ao Presidente da República amplos poderes em situações extremas que ameacem a ordem constitucional. No contexto dessas crises, o Presidente poderia usar as Forças Armadas para garantir a lei, a ordem e o funcionamento adequado dos poderes constitucionais", consta no relatório da investigação.
O relatório também aponta que neste artigo "há menção à possibilidade de remoção de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Em particular, o texto sugere que o Presidente da República, ao agir com base no art. 142, poderia, por decreto, ordenar a Polícia Federal a não cumprir decisões judiciais consideradas inconstitucionais, como mandados de prisão. Além disso, se tal situação se agravasse, a medida "adequada" poderia incluir a remoção de um ou mais ministros do STF, sem a necessidade de seguir o devido processo legal, conforme decisão do Presidente. Essa remoção seria sumária, dependendo exclusivamente do decreto presidencial".
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'Oração ao golpe'
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Reprodução/PF
Ainda no relatório da PF consta que o padre José Eduardo encaminhou uma mensagem no dia 3 de novembro, via WhatsApp, para um contato salvo como "Frei Gilson".
A mensagem é uma espécie de "oração ao golpe" em que o padre pede para que todos os brasileiros incluam generais e o ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira nas orações, “pedindo para que Deus lhes dê a coragem de salvar o Brasil, lhes ajude a vencer a covardia e os estimule a agir com consciência histórica e não apenas como funcionários público de farda [...]".
" A mensagem demonstra que José Eduardo, logo após a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais, já disseminava a ideia de um golpe de Estado apoiado pelas Forças Armadas, para manter o então presidente no poder e impedir a posse do governo eleito", aponta o relatório.
Em outra mensagem, José Eduardo pede que a mensagem seja repassada apenas para “pessoas de estrita confiança”
PF indicia Bolsonaro e mais 36 pessoas por tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do estado democrático de direito
O que disse o padre José Eduardo
Por meio de nota em fevereiro, o padre negou que tenha participado de qualquer conspiração contra a Constituição Brasileira. Segundo o padre, como sacerdote católico "é chamado para auxílio espiritual não apenas dos frequentadores da minha paróquia, mas também de todos aqueles de alhures que espontaneamente me procuram com assuntos dos mais variados temas".
"Como é meu dever, preservo a privacidade de todos eles, visto que os dilemas que me apresentam são sempre de foro interno. Em relação ao referido 'inquérito dos atos antidemocráticos', minha posição sobre o assunto é clara e inequívoca: a República é laica e regida pelos preceitos constitucionais, que devem ser respeitados. Romper com a ordem estabelecida seria profundamente contrário aos meus princípios", disse José Eduardo.
"Abaixo de Deus, em nosso país, está a Constituição Federal. Portanto, não cooperei nem endossei qualquer ato disruptivo da Constituição. Como professor de teologia moral, sempre ensinei que a lei positiva deve ser obedecida pelos fiéis, dentre os quais humildemente me incluo. Estou inteiramente à disposição da justiça brasileira para qualquer eventual esclarecimento, recordando o dever de toda a sociedade de combater qualquer tipo de intolerância religiosa", completou.
"A única missão na minha vida é o meu trabalho sacerdotal. Por isso, preciso de um “tradutor” que me faça compreender os passos jurídicos decorrentes desta inusitada e inesperada situação e que me ajude a atender com precisão os pedidos do Poder Judiciário. Por isso, constituo meu “tradutor” o Dr. Miguel da Costa Carvalho Vidigal, advogado, que saberá dar respostas jurídicas pertinentes ao assunto. Ainda não obtivemos acesso aos autos, o qual esperamos obter nos próximos dias", declarou.
Quem é o padre José Eduardo
Integrante da ala conservadora da Igreja Católica, o padre José Eduardo comemora 18 anos de sacerdócio em 2024. Ele é o vigário oficial da 'Paróquia São Domingos – o Pregador-, no bairro de Umuarama, em Osasco.
Doutor em Teologia Moral pela Pontifícia Universidade da Santa Cruz (Roma, Itália), o religioso grava vídeos no Youtube com críticas às cantoras Madonna e Luiza Sonza, por exemplo, e analisa a letra das músicas e o simbolismo de clipes de canções como “Campo de Morango”.
Entre as pautas que o padre mais gosta de comentar é o aborto: “Você tem pessoas tão loucas que elas são abortistas e veganas. São a favor de que se matem os bebês no ventre de suas mães, mas são totalmente contra o extermínio de animais para o consumo”, declarou ele em outro vídeo.
"Chatólicos"
O padre também frequenta canais e podcast de grande repercussão na extrema direita, como os produtos da produtora Brasil Paralelo e o canal do economista bolsonarista Rodrigo Constantino.
Nos textos em que mantém no seu site pessoal, o padre também alerta os fiéis católicos contra os colegas de igreja que ele chama de “chatólicos”.
Entre as características desse tipo de cristão, segundo o religioso, estão as seguintes:
“O fulano que se converteu ontem, mas já se considera o próprio martelo dos hereges; justificam toda agressividade, desde que ungida com uma pretensa defesa da fé, em nome da qual cometem calúnias e difamações, além de muita desonestidade intelectual; Participam da liturgia como censores, mais preocupados com os eventuais erros cometidos pelo celebrante que com a edificação de sua alma; vivem de sensacionalismo escatológico, assustando “os outros com revelações particulares e especulações irresponsáveis sobre o capiroto”, escreveu.
*Colaborou Leandro Sant'Ana/TV Globo
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2024/11/26/investigacao-da-pf-aponta-como-padre-de-osasco-colaborou-na-elaboracao-da-minuta-e-ate-criou-oracao-ao-golpe.ghtml
minuta e até criou 'oração ao golpe'
Padre José Eduardo está entre os 37 indiciados pela Polícia Federal no inquérito sobre a tentativa de golpe. Em fevereiro deste ano, ele foi alvo da operação Tempus Veritatis. O padre José Eduardo de Oliveira e Silva, da Diocese de Osasco, na Grande São Paulo
Reprodução/Redes Sociais
O relatório final da investigação conduzida pela Polícia Federal sobre uma tentativa de golpe de Estado em 2022, no fim do governo Bolsonaro, aponta como o padre José Eduardo de Oliveira e Silva, da Diocese de Osasco, colaborou na elaboração da minuta e até criou uma espécie de "oração ao golpe" em que pedia que os brasileiros incluíssem os nomes de 17 generais e do ministro da Defesa em suas preces.
O padre José Eduardo está entre os 37 indiciados pela Polícia Federal no inquérito sobre a tentativa de golpe. Em fevereiro deste ano, ele foi alvo da operação Tempus Veritatis.
Na época, o padre foi informado pela PF que teria que cumprir medidas cautelares para não ser preso. Entre as medidas estão: a proibição de manter contato com os demais investigados da operação e o compromisso de não se ausentar do país e entrega de todos os passaportes, nacionais e estrangeiros.
O documento, que tem mais de 800 páginas, reúne as conclusões da PF sobre uma trama, arquitetada pelo entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), para frustrar a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em janeiro de 2023.
Em relação ao padre, ele é citado como integrante do núcleo jurídico do esquema. Os investigadores apontam evidências de que ele mantinha contato com Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro preso em fevereiro, e Amauri Feres Saad, advogado citado na CPI dos Atos Golpistas como "mentor intelectual" da minuta encontrada com Anderson Torres, ex-ministro da Justiça.
O contato entre os três é demonstrado em uma série de mensagens trocadas pelo WhatsApp e e-mails. Além disso, o padre tinha os contatos de Filipe e Amauri salvos no celulares. Também foi encontrada uma foto publicada nas redes sociais do padre com Filipe Martins.
Outra evidência apontada no relatório é que o padre esteve em Brasília em novembro e dezembro de 2022, passando pelo comitê de campanha de Bolsonaro e também pelo Palácio do Alvorada.
Segundo a PF, o padre esteve em uma reunião no dia 19 de novembro de 2022 com Filipe Martins e Amauri Saad, como indicam os controles de entrada e saída do Palácio do Planalto.
O encontro, segundo o inquérito da PF, fazia parte de uma série de discussões convocadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para tratativas com militares de alta patente sobre a instalação de um regime de exceção constitucional.
A PF também aponta que o padre enviou, em 25 de novembro de 2022, um e-mail com um arquivo nomeado "Saad-Artigo 142.pdf". O documento enviado em anexo remete a um artigo acadêmico produzido por Amauri Saad.
"Em síntese, o artigo aborda a aplicação do Artigo 142 da Constituição Federal de 1988 como um mecanismo para enfrentar crises constitucionais, conferindo ao Presidente da República amplos poderes em situações extremas que ameacem a ordem constitucional. No contexto dessas crises, o Presidente poderia usar as Forças Armadas para garantir a lei, a ordem e o funcionamento adequado dos poderes constitucionais", consta no relatório da investigação.
O relatório também aponta que neste artigo "há menção à possibilidade de remoção de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Em particular, o texto sugere que o Presidente da República, ao agir com base no art. 142, poderia, por decreto, ordenar a Polícia Federal a não cumprir decisões judiciais consideradas inconstitucionais, como mandados de prisão. Além disso, se tal situação se agravasse, a medida "adequada" poderia incluir a remoção de um ou mais ministros do STF, sem a necessidade de seguir o devido processo legal, conforme decisão do Presidente. Essa remoção seria sumária, dependendo exclusivamente do decreto presidencial".
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'Oração ao golpe'
Relatório da PF mostra 'oração do golpe' criada por padre de Osasco
Reprodução/PF
Ainda no relatório da PF consta que o padre José Eduardo encaminhou uma mensagem no dia 3 de novembro, via WhatsApp, para um contato salvo como "Frei Gilson".
A mensagem é uma espécie de "oração ao golpe" em que o padre pede para que todos os brasileiros incluam generais e o ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira nas orações, “pedindo para que Deus lhes dê a coragem de salvar o Brasil, lhes ajude a vencer a covardia e os estimule a agir com consciência histórica e não apenas como funcionários público de farda [...]".
" A mensagem demonstra que José Eduardo, logo após a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais, já disseminava a ideia de um golpe de Estado apoiado pelas Forças Armadas, para manter o então presidente no poder e impedir a posse do governo eleito", aponta o relatório.
Em outra mensagem, José Eduardo pede que a mensagem seja repassada apenas para “pessoas de estrita confiança”
PF indicia Bolsonaro e mais 36 pessoas por tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do estado democrático de direito
O que disse o padre José Eduardo
Por meio de nota em fevereiro, o padre negou que tenha participado de qualquer conspiração contra a Constituição Brasileira. Segundo o padre, como sacerdote católico "é chamado para auxílio espiritual não apenas dos frequentadores da minha paróquia, mas também de todos aqueles de alhures que espontaneamente me procuram com assuntos dos mais variados temas".
"Como é meu dever, preservo a privacidade de todos eles, visto que os dilemas que me apresentam são sempre de foro interno. Em relação ao referido 'inquérito dos atos antidemocráticos', minha posição sobre o assunto é clara e inequívoca: a República é laica e regida pelos preceitos constitucionais, que devem ser respeitados. Romper com a ordem estabelecida seria profundamente contrário aos meus princípios", disse José Eduardo.
"Abaixo de Deus, em nosso país, está a Constituição Federal. Portanto, não cooperei nem endossei qualquer ato disruptivo da Constituição. Como professor de teologia moral, sempre ensinei que a lei positiva deve ser obedecida pelos fiéis, dentre os quais humildemente me incluo. Estou inteiramente à disposição da justiça brasileira para qualquer eventual esclarecimento, recordando o dever de toda a sociedade de combater qualquer tipo de intolerância religiosa", completou.
"A única missão na minha vida é o meu trabalho sacerdotal. Por isso, preciso de um “tradutor” que me faça compreender os passos jurídicos decorrentes desta inusitada e inesperada situação e que me ajude a atender com precisão os pedidos do Poder Judiciário. Por isso, constituo meu “tradutor” o Dr. Miguel da Costa Carvalho Vidigal, advogado, que saberá dar respostas jurídicas pertinentes ao assunto. Ainda não obtivemos acesso aos autos, o qual esperamos obter nos próximos dias", declarou.
Quem é o padre José Eduardo
Integrante da ala conservadora da Igreja Católica, o padre José Eduardo comemora 18 anos de sacerdócio em 2024. Ele é o vigário oficial da 'Paróquia São Domingos – o Pregador-, no bairro de Umuarama, em Osasco.
Doutor em Teologia Moral pela Pontifícia Universidade da Santa Cruz (Roma, Itália), o religioso grava vídeos no Youtube com críticas às cantoras Madonna e Luiza Sonza, por exemplo, e analisa a letra das músicas e o simbolismo de clipes de canções como “Campo de Morango”.
Entre as pautas que o padre mais gosta de comentar é o aborto: “Você tem pessoas tão loucas que elas são abortistas e veganas. São a favor de que se matem os bebês no ventre de suas mães, mas são totalmente contra o extermínio de animais para o consumo”, declarou ele em outro vídeo.
"Chatólicos"
O padre também frequenta canais e podcast de grande repercussão na extrema direita, como os produtos da produtora Brasil Paralelo e o canal do economista bolsonarista Rodrigo Constantino.
Nos textos em que mantém no seu site pessoal, o padre também alerta os fiéis católicos contra os colegas de igreja que ele chama de “chatólicos”.
Entre as características desse tipo de cristão, segundo o religioso, estão as seguintes:
“O fulano que se converteu ontem, mas já se considera o próprio martelo dos hereges; justificam toda agressividade, desde que ungida com uma pretensa defesa da fé, em nome da qual cometem calúnias e difamações, além de muita desonestidade intelectual; Participam da liturgia como censores, mais preocupados com os eventuais erros cometidos pelo celebrante que com a edificação de sua alma; vivem de sensacionalismo escatológico, assustando “os outros com revelações particulares e especulações irresponsáveis sobre o capiroto”, escreveu.
*Colaborou Leandro Sant'Ana/TV Globo
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2024/11/26/investigacao-da-pf-aponta-como-padre-de-osasco-colaborou-na-elaboracao-da-minuta-e-ate-criou-oracao-ao-golpe.ghtml