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### Bitcoin: Moeda ou Não? Uma Análise Crítica.

Por décadas, economistas debatem o que constitui uma moeda. Com a ascensão do Bitcoin em 2009, criado por Satoshi Nakamoto, essa discussão ganhou uma nova camada de complexidade. Para alguns, o Bitcoin é a moeda do futuro, livre das amarras estatais e inflacionárias. Para outros, é apenas um ativo especulativo, incapaz de cumprir os requisitos básicos de uma moeda. Inspirados por uma perspectiva econômica sólida, como a da escola austríaca, examinaremos os argumentos para determinar: o Bitcoin é realmente uma moeda ou apenas uma ilusão monetária?
#### O que Define uma Moeda?
Antes de julgar o Bitcoin, precisamos estabelecer critérios claros. Tradicionalmente, economistas — incluindo Ludwig von Mises — definem moeda por três funções principais:
1. **Meio de troca**: Deve ser amplamente aceito para facilitar transações.
2. **Unidade de conta**: Serve como medida comum de valor para bens e serviços.
3. **Reserva de valor**: Mantém seu poder de compra ao longo do tempo.
Mises, em sua obra *A Teoria da Moeda e do Crédito* (1912), enfatiza que uma moeda surge organicamente no mercado, ganhando aceitação por sua utilidade e escassez. Ele rejeita a ideia de moedas impostas por decreto (fiat), destacando que o valor emerge da ação humana espontânea. Com isso em mente, vamos testar o Bitcoin contra esses critérios.
#### Bitcoin como Meio de Troca.
O Bitcoin foi projetado para ser um "sistema de dinheiro eletrônico ponto a ponto". Em teoria, ele permite transações sem intermediários, como bancos ou governos. Na prática, porém, sua adoção como meio de troca é limitada. Em março de 2025, algumas empresas — como Tesla (intermitentemente) e plataformas online — aceitam Bitcoin, mas a maioria das transações diárias (comprar café, pagar contas) ainda depende de moedas fiat, como o dólar ou o euro.
Por quê? Primeiro, a volatilidade do Bitcoin é um obstáculo. Em 2024, seu preço oscilou entre US$ 40.000 e US$ 80.000, tornando-o arriscado para vendedores e compradores. Segundo, as taxas de transação e o tempo de confirmação na blockchain (em média, 10 minutos por bloco) o tornam menos prático que cartões de crédito ou dinheiro físico. Para Mises, a aceitação ampla é essencial, e o Bitcoin, apesar de seu crescimento, ainda está longe de ser um meio de troca universal.
#### Bitcoin como Unidade de Conta.
Uma moeda deve oferecer uma referência estável de valor. Se um pão custa 0,00005 BTC hoje e 0,00003 BTC amanhã devido à flutuação de preço, os comerciantes enfrentam um pesadelo contábil. Na prática, os preços em Bitcoin são raros; a maioria das transações ainda usa moedas fiat como referência, com o BTC convertido no momento do pagamento. Isso sugere que o Bitcoin funciona mais como um ativo negociado (como ouro ou ações) do que como uma unidade de conta confiável.
#### Bitcoin como Reserva de Valor.
Aqui o Bitcoin brilha — mas com ressalvas. Seus defensores o chamam de "ouro digital" por sua oferta limitada (21 milhões de unidades) e resistência à inflação, ao contrário das moedas fiat, que governos podem imprimir à vontade. Desde sua criação, o Bitcoin valorizou-se enormemente, atraindo investidores que o veem como proteção contra a desvalorização do dinheiro estatal.
No entanto, uma reserva de valor exige estabilidade a longo prazo, e o Bitcoin é notoriamente volátil. Para Mises, o valor de uma moeda está na confiança que ela inspira, e as quedas bruscas do Bitcoin (como a de 50% em 2022) minam essa confiança. O ouro, por exemplo, é volátil, mas sua aceitação histórica o sustenta como reserva de valor; o Bitcoin ainda não tem esse respaldo.
#### A Perspectiva Austríaca: Moeda de Mercado?
A escola austríaca oferece um argumento intrigante a favor do Bitcoin. Mises defendia que moedas surgem do mercado, não de imposições estatais. O Bitcoin, nascido da iniciativa privada e adotado voluntariamente por milhões, parece alinhar-se a essa visão. Ele não depende de bancos centrais ou governos, escapando do que Mises chamava de "inflação planejada" do sistema fiat. Sua escassez programada ecoa o padrão-ouro, que os austríacos frequentemente elogiam.
Por outro lado, Mises argumentava que uma moeda deve ter origem em um bem com valor intrínseco (como o ouro, usado em joias antes de virar moeda). O Bitcoin, sendo puramente digital, não tem uso fora de sua função monetária, o que o torna um experimento sem precedentes. Para os austríacos mais ortodoxos, isso o desqualifica como moeda "verdadeira".
#### O Contra-Argumento: Bitcoin é um Ativo, Não Moeda.
Críticos, mesmo dentro de uma visão libertária, apontam que o Bitcoin se assemelha mais a um ativo especulativo do que a uma moeda funcional. Sua valorização atrai hodlers (investidores que o acumulam), mas desencoraja seu uso em transações — um fenômeno conhecido como Lei de Gresham invertida: "o bom dinheiro é guardado, o ruim circula". Enquanto o dólar, apesar de suas falhas, domina o comércio global, o Bitcoin permanece um nicho, mais comparável a títulos de investimento do que a dinheiro vivo.
#### Conclusão: Moeda em Potencial, Mas Não Hoje.
O Bitcoin não é uma moeda no sentido pleno — ainda. Ele falha como meio de troca amplamente aceito e unidade de conta estável, embora tenha méritos como reserva de valor em um mundo de moedas fiat decadentes. Para os seguidores de Mises, seu surgimento espontâneo é promissor, mas sua falta de adoção universal e base física o mantém na categoria de "quase-moeda". Talvez, com o tempo e maior estabilidade, ele evolua para cumprir todas as funções monetárias. Por ora, o Bitcoin é um híbrido fascinante: um ativo com ambições monetárias, mas não uma moeda no sentido clássico. O futuro dirá se ele conquistará o mercado ou permanecerá um sonho libertário.
No próximo artigo falarei a respeito da segunda camada que de certa maneira elucida uma questão crucial sobre o futuro do Bitcoin.