What is Nostr?
pollyanna
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2024-10-12 00:17:01

pollyanna on Nostr: mais um conto de 2020, em escrita livre. -- Sentada na areia da praia, ela observava ...

mais um conto de 2020, em escrita livre.

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Sentada na areia da praia, ela observava o mar em silêncio, segurando suas pernas com os braços que se entrelaçavam. O nariz encostava nos joelhos e só se podia ver seus olhos. A menina estava só. À sua volta apenas uma imensidão de água, areia, vento e animais que não apareciam mas estavam lá. Destes últimos, os pássaros eram os únicos que não passavam despercebidos: os olhos da menina os acompanhavam todas as vezes que passavam por seu campo de visão.

Ela estava avistando o céu, quando um deles pousou ao seu lado. Era um pássaro branco e tão grande que quase alcançava os ombros da menina naquela posição. A menina sentiu sua presença e olhou rápido, assustada. Ele a olhou também e parecia enxergar tudo, toda a profundidade dela. A menina o observou com atenção. O susto passou. Era a primeira vez que seus olhos encontravam outros, completamente desconhecidos, por tanto tempo e com plena presença.

Depois desse encontro intenso de olhares, a menina estendeu sua mão para o pássaro. Era uma gaivota - nesse momento ela se dera conta. Ele abaixou a cabeça em direção à mão e entregou-lhe um objeto. Os dedos da menina se fecharam envolvendo o presente que ela logo depositara no bolso direito de sua calça. Ficou lá por pouco tempo. O objeto caíra na areia como se tivesse um grande buraco naquela parte da roupa. Ela o segurou novamente e colocou no bolso de sua camisa, que ficava do lado esquerdo do peito. Aconteceu a mesma coisa.

A menina, àquela altura, quis recusar o presente, já que não podia escolher quando e onde colocar, mas ela tinha vivido algo tão impactante que resolveu continuar segurando o objeto.

No mesmo instante a gaivota voou e a menina voltou a ficar sozinha. Olhou para a areia que tocava seus pés e percebeu os grãos: cada um em certo lugar, todos diferentes, e a composição perfeita para a sensação que lhe surgia.

De repente, um buraco se abriu embaixo de seus pés e a menina caiu em um lugar escuro, embora confortável como um abraço. Ela abriu suas mãos e percebeu que o objeto emitia uma luz, não muito forte, mas que ajudava enxergar o que estava à sua volta. Era areia.

A menina tentou se movimentar e cada vez que o fazia a areia se movia e chegava até seus pés, começando a cobri-los. Ficou com medo de ter seu corpo inteiro coberto pelos grãos, então não se moveu mais.

Suas mãos seguiam abertas e ela sentiu-se chamada a olhar para o objeto. Era um anel com uma pedra que se assemelhava aos olhos da gaivota. Ela não tinha reparado até aquele momento. Seu olhar, então, abriu a atenção para ver e ela foi novamente fisgada. Num completo estado de presença colocou no dedo o anel.

Ouviu o barulho das ondas e olhou para cima. A gaivota estava no topo do buraco que se abrira, esperando que a menina lhe estendesse a mão. A menina assim o fez e, quando se deu conta de tudo, estava sozinha, sentada na areia, com as mãos na água. Avistou o anel sendo levado e sorriu.

Foi embora da praia caminhando devagar e sentindo o encontro de seus pés com a areia.
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