What is Nostr?
pollyanna
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2024-10-04 20:46:22

pollyanna on Nostr: Um homem caminhava sozinho no deserto. Um lenço em sua cabeça o protegia do calor. ...

Um homem caminhava sozinho no deserto. Um lenço em sua cabeça o protegia do calor. O vento lhe fazia companhia e aliviava o percurso.

De longe avistou uma flor. Pensou logo que devia ser uma miragem, já que àquela altura, no meio do deserto, era improvável que encontrasse tão nítido broto de vida.

Foi se aproximando e a imagem não se desvanecia. Era mesmo uma flor ali, bem no meio do deserto em um momento inesperado. Ele se abaixou, tocou a flor e ela se despetalou completamente.

O homem ficou desolado e guardou as pétalas no bolso, como lembrança do momento surpreendente que vivera, ainda que fosse também triste.

Caminhou por mais algum tempo e, de repente, o vento parou de soprar. O homem ficou preocupado, pensando que não conseguiria, assim, seguir por muito tempo. Ele se deitou no chão por um instante. Uma pétala caiu de seu bolso e tocou mais uma vez a areia do deserto.

De súbito, a pétala transformou-se em algo diferente. O homem a tocou e viu que ela tinha a forma de uma concha, menor que a palma de sua mão, do tamanho de uma colher de sopa. Dentro da concha havia água e o homem, agradecido, bebeu.

A água, embora parecesse tão pouca, foi suficiente para que o homem criasse forças para seguir. Quando ele se levantou, o vento voltou a soprar e ele ficou ainda mais confiante.

Seguiu andando até que começou a ficar com sede outra vez. Teve a ideia de jogar uma das pétalas restantes no chão. Quando a pétala caiu, ela virou pó e foi embora com o vento.

O homem ficou confuso e seguiu andando mais um pouco pensando sobre o que acontecera, . Colocou a mão no bolso onde estavam as outras pétalas e decidiu jogar mais uma no chão para ver o que aconteceria. Outra vez a pétala se desfez e o vento levou seus resquícios para longe.

Restavam três pétalas e o homem não sabia o que fazer. Estava com sede e, depois dessas tristes ocorrências, perdera a força para continuar.

Deitou-se mais uma vez na areia e, sem perceber, mais uma pétala caíra no chão. Não demorou para que ele notasse a transformação. Desta vez, a pétala, em formato de concha, tinha o tamanho de uma xícara e dentro dela tinha água fresca.

O homem não conteve sua surpresa e bebeu a água confuso e agradecido. Se revigorou e recomeçou sua caminhada.

Seus passos deixavam clara sua confusão sobre tudo o que acontecera. Distraído do caminho, o homem começou a andar mais devagar. Percorreu uma distância menor e já estava novamente com sede, mesmo tendo bebido mais água. Começou a pensar o quanto queria chegar em casa.

Achou que o certo seria deitar e esperar que a pétala caísse. Faltavam mais duas. Ficou deitado bastante tempo e nenhuma pétala caiu. O homem começou a chorar, sem entender nada do que estava acontecendo. Ele estava cansado.

Levantou-se porque não sabia mais o que fazer e notou que uma pétala caíra. Olhou para trás e lá estava ela: agora em formato de concha tinha o tamanho de uma chaleira. Bebeu só um pouco de água e estava satisfeito, então seguiu levando o restante consigo.

Ele parecia ter se encontrado em seu próprio corpo e percebia com mais clareza quando precisava beber a água e quando já estava satisfeito. Caminhou por mais um tempo e a água acabou. A pétala em forma de concha desapareceu.

O homem seguiu caminhando e começou a sentir sede outra vez, mas resolveu não parar até que seu corpo realmente precisasse de descanso. Foi então que ouviu as batidas de seu coração. Naquele instante caiu a última pétala.

Ele não conseguia ver o que tinha acontecido. Já era noite e estava tudo escuro. Abaixou-se e tateou o ar procurando a pétala em forma de concha. Não a encontrou.

Prosseguiu, então, já que seu corpo não dera sinais de necessitar descanso. Andou por mais algum tempo e percebeu que o clima mudara. Começou a sentir frio. Parou um instante e olhou à sua volta. Ele conhecia intimamente aquele lugar: estava em frente à sua casa. Entrou.

Em cima da mesa, uma concha do tamanho de um jarro lhe dava as boas vindas.


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mais um conto de escrita livre sem revisão escrito em 2020.
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