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Macaco(猴)
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2024-07-09 14:21:57

Macaco(猴) on Nostr: (Jardim das Aflições) ...O Estado utiliza-se das reivindicações de autonomia dos ...

(Jardim das Aflições)

...O Estado utiliza-se das reivindicações de autonomia dos indivíduos — reivindicações particularmente fortes nos jovens, nas mulheres, nos discriminados, nos ressentidos de toda sorte —, como de uma isca para prendê-los na armadilha da pior das tiranias. “Libertando” os homens de seus vínculos com a família, a paróquia, o bairro, protegendo-os sob a imensa rede de serviços públicos que os livra da necessidade de recorrer à ajuda de parentes e amigos, oferecendo-lhes o engodo de uma garantia jurídica contra os preconceitos, antipatias, sentimentos e até olhares de seus semelhantes — uma garantia jurídica contra a vida, em suma —, o Estado na verdade os divide, isola e enfraquece, cultivando as suscetibilidades neuróticas que os infantilizam, tornando-lhes impossível, de um lado, criar ligações verdadeiras uns com os outros, e, de outro lado, sobreviver sem o amparo estatal e muito professional help. Niveladas todas as diferenças, cada ser humano torna-se uma unidade abstrata e amorfa, o “cidadão”, nem homem nem mulher, nem criança nem adulto, nem jovem nem velho, cuja soma compõe a massa atomística dos protegidos do Estado — tanto mais inermes e impotentes quanto mais carregados de direitos e garantias. Daí o fenômeno alarmante da adolescência prolongada — hordas de cidadãos, biológica e legalmente adultos, devidamente empregados e no gozo de seus direitos, mas incapazes de assumir qualquer responsabilidade pessoal nas ligações mais íntimas; perpetuamente à espera de que alguém faça algo por eles; cheios de autopiedade e indiferentes aos sofrimentos alheios; sempre trocando de namoradas, de amigos, de terapeutas, de planos e objetivos vitais, com a leviana desenvoltura de quem troca de meias. [ 236 ] Se a bête noire visada por todas as campanhas de proteção aos direitos é sempre o macho adulto heterossexual, isto não ocorre por casualidade nem por mera birra feminista, mas por uma exigência intrínseca da dialética do poder: numa sociedade onde todo cidadão pertencente a esse grupo é estigmatizado como um virtual espancador de mulheres, sedutor de domésticas e estuprador de crianças, não espanta que ninguém queira amadurecer para ingressar nele; que todos prefiram permanecer adolescentes e, no mínimo, sexualmente indecisos — o que é uma condição sine qua non para a dissolução dos caracteres na sopa entrópica da “cidadania”. Evoluímos, assim, para uma sociedade onde não haverá mais a diferença entre adultos e crianças, pois todos serão menores de idade; onde já não haverá pais e filhos — somente a multidão inumerável dos órfãos de todas as idades, reunidos num imenso colégio interno sob a tutela do Estado bedel, cada um com um luzente crachá de “cidadão”. [ 237 ] E a situação assim criada terá o dom da automultiplicação: após ter infantilizado os cidadãos, o Estado alegará a deficiência de seu juízo moral para se meter cada vez mais em suas decisões privadas."
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