Petra Veritatis on Nostr: Semana de Páscoa Terça-feira No céu goza-se uma felicidade perfeita Satiabor cum ...
Semana de Páscoa
Terça-feira
No céu goza-se uma felicidade perfeita
Satiabor cum apparuerit gloria tua — “Saciar-me-ei, quando aparecer a tua glória” (Sl. 16, 15).
Sumário. Posto que no mundo se encontrem muitas coisas formosas, não são, todavia perfeitas, e sempre deixam alguma coisa para desejar. Se, porém, tivermos a ventura de entrar no céu, o nosso coração estará perfeitamente satisfeito nessa ditosa pátria. Ali nada haverá que possa desagradar, e haverá tudo aquilo que se possa desejar. Ah, meu Jesus! Peço-Vos o céu, não tanto para Vos gozar, como para Vos amar de todo o coração.
I. São Bernardo, falando do paraíso, diz: Ó homem, se queres saber o que seja a pátria bem-aventurada, fica sabendo que ali nada há que desagrade, e que se encontra tudo aquilo que se possa desejar: Nihil est quod nolis; totum est quod velis. — Se bem que nesta terra haja alguma coisa que agrada aos nossos sentidos, quantas coisas não há que afligem? Se agrada a luz do dia, aflige a escuridão da noite. Se agradam a amenidade da primavera, a abundância do outono, afligem o frio do inverno e o calor do verão. Acrescentai a isso os sofrimentos na enfermidade, as perseguições da parte dos homens, as privações da pobreza. Acrescentai as angústias interiores, os temores, as tentações dos demônios, as dúvidas da consciência, a incerteza da salvação.
Mas quando os bem-aventurados entram no céu, não terão mais nada a sofrer: Absterget Deus omnem lacrimam ab oculis eorum (1). Deus enxugará de seus olhos todas as lágrimas derramadas sobre a terra; e não haverá mais morte, nem luto, nem clamor, nem mais haverá dor; porquanto as coisas d'outrora desapareceram. — No céu não há doença, nem pobreza, nem incômodos. Deixam de existir a alternação dos dias e das noites, do frio e do calor; é um dia perpétuo e sempre sereno, uma primavera contínua e sempre deliciosa. Ali não há perseguições, nem ciúmes; neste reino de amor, todos os habitantes se amam mútua e ternamente e cada qual goza da ventura dos outros, como se fosse a própria. Não há receios, porque a alma confirmada na graça já não pode pecar; nem perder a seu Deus.
Ó meu Jesus, pelo sangue que derramastes por mim, fazei-me digno de entrar um dia na pátria bem-aventurada. Não mereço o paraíso, mas o inferno, porque Vos hei ofendido tantas vezes pelos meus pecados; porém, a vossa morte me faz esperar de possuí-Lo um dia.
II. Totum est quod velis. No céu não somente nada há que desagrade, mas encontra-se tudo quanto se possa desejar. Ali tudo é novo e saciará os nossos desejos: Ecce nova facio omnia (2) — Eis que faço novas todas as coisas. Os olhos se deslumbrarão com a vista daquela cidade, cuja beleza é perfeita. Que maravilha não nos causaria a vista de uma cidade cujas ruas fossem calçadas de cristal, cujas casas fossem palácios de prata, ornados de cimalhas de ouro e de festões de flores! Oh, quanto mais bela ainda é a cidade celeste! Que delicioso não será ver todos os seus habitantes vestidos com pompa real, porque todos efetivamente são reis, como os chama Santo Agostinho: Quot cives, tot reges! Que será o ver a Maria, que aparecerá mais bela que todo o paraíso! Que será o ver o Cordeiro divino! Um dia Santa Teresa viu apenas uma mão de Cristo, e ficou arrebatada em êxtase à vista de tão grande beleza.
Os perfumes suavíssimos e incomparáveis do paraíso regalarão o olfato. O ouvido será deleitado pelas harmonias celestes. Um anjo deixou um dia ouvir a São Francisco um único som da música celeste, e o Santo julgou morrer de contentamento. O que não será ouvir todos os santos e todos os anjos cantarem em coro os louvores de Deus? In saecula saeculorum laudabunt te (3) — “Eles te louvarão pelos séculos dos séculos”. O que não será ouvir Maria celebrar as glórias de Deus! A voz de Maria, diz São Francisco de Sales, é no céu o que é num bosque a do rouxinol, que vence a de todas as aves. Numa palavra, o paraíso é a reunião de todos os gozos que se podem desejar.
Ó meu Deus! Eu desejo e Vos peço o paraíso, não tanto para Vos gozar, como para Vos amar. Suplico-Vos, para glória de vossa misericórdia, fazei que os bem-aventurados vejam abrasado em vosso amor um pecador que tantas vezes Vos ofendeu. Tomo a resolução de ser daqui por diante todo vosso e de não pensar senão em Vos amar. — Assisti-me com a vossa luz e a vossa graça, que me dê força para executar esta resolução que Vós mesmo pela vossa bondade me inspirais. — Ó Maria, vós que sois a Mãe da perseverança, impetrai-me a fidelidade em minha promessa. (*II 133.)
Referências:
(1) Ap. 21, 4.
(2) Ap. 21, 5.
(3) Sl. 83, 5.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 6-9)
Terça-feira
No céu goza-se uma felicidade perfeita
Satiabor cum apparuerit gloria tua — “Saciar-me-ei, quando aparecer a tua glória” (Sl. 16, 15).
Sumário. Posto que no mundo se encontrem muitas coisas formosas, não são, todavia perfeitas, e sempre deixam alguma coisa para desejar. Se, porém, tivermos a ventura de entrar no céu, o nosso coração estará perfeitamente satisfeito nessa ditosa pátria. Ali nada haverá que possa desagradar, e haverá tudo aquilo que se possa desejar. Ah, meu Jesus! Peço-Vos o céu, não tanto para Vos gozar, como para Vos amar de todo o coração.
I. São Bernardo, falando do paraíso, diz: Ó homem, se queres saber o que seja a pátria bem-aventurada, fica sabendo que ali nada há que desagrade, e que se encontra tudo aquilo que se possa desejar: Nihil est quod nolis; totum est quod velis. — Se bem que nesta terra haja alguma coisa que agrada aos nossos sentidos, quantas coisas não há que afligem? Se agrada a luz do dia, aflige a escuridão da noite. Se agradam a amenidade da primavera, a abundância do outono, afligem o frio do inverno e o calor do verão. Acrescentai a isso os sofrimentos na enfermidade, as perseguições da parte dos homens, as privações da pobreza. Acrescentai as angústias interiores, os temores, as tentações dos demônios, as dúvidas da consciência, a incerteza da salvação.
Mas quando os bem-aventurados entram no céu, não terão mais nada a sofrer: Absterget Deus omnem lacrimam ab oculis eorum (1). Deus enxugará de seus olhos todas as lágrimas derramadas sobre a terra; e não haverá mais morte, nem luto, nem clamor, nem mais haverá dor; porquanto as coisas d'outrora desapareceram. — No céu não há doença, nem pobreza, nem incômodos. Deixam de existir a alternação dos dias e das noites, do frio e do calor; é um dia perpétuo e sempre sereno, uma primavera contínua e sempre deliciosa. Ali não há perseguições, nem ciúmes; neste reino de amor, todos os habitantes se amam mútua e ternamente e cada qual goza da ventura dos outros, como se fosse a própria. Não há receios, porque a alma confirmada na graça já não pode pecar; nem perder a seu Deus.
Ó meu Jesus, pelo sangue que derramastes por mim, fazei-me digno de entrar um dia na pátria bem-aventurada. Não mereço o paraíso, mas o inferno, porque Vos hei ofendido tantas vezes pelos meus pecados; porém, a vossa morte me faz esperar de possuí-Lo um dia.
II. Totum est quod velis. No céu não somente nada há que desagrade, mas encontra-se tudo quanto se possa desejar. Ali tudo é novo e saciará os nossos desejos: Ecce nova facio omnia (2) — Eis que faço novas todas as coisas. Os olhos se deslumbrarão com a vista daquela cidade, cuja beleza é perfeita. Que maravilha não nos causaria a vista de uma cidade cujas ruas fossem calçadas de cristal, cujas casas fossem palácios de prata, ornados de cimalhas de ouro e de festões de flores! Oh, quanto mais bela ainda é a cidade celeste! Que delicioso não será ver todos os seus habitantes vestidos com pompa real, porque todos efetivamente são reis, como os chama Santo Agostinho: Quot cives, tot reges! Que será o ver a Maria, que aparecerá mais bela que todo o paraíso! Que será o ver o Cordeiro divino! Um dia Santa Teresa viu apenas uma mão de Cristo, e ficou arrebatada em êxtase à vista de tão grande beleza.
Os perfumes suavíssimos e incomparáveis do paraíso regalarão o olfato. O ouvido será deleitado pelas harmonias celestes. Um anjo deixou um dia ouvir a São Francisco um único som da música celeste, e o Santo julgou morrer de contentamento. O que não será ouvir todos os santos e todos os anjos cantarem em coro os louvores de Deus? In saecula saeculorum laudabunt te (3) — “Eles te louvarão pelos séculos dos séculos”. O que não será ouvir Maria celebrar as glórias de Deus! A voz de Maria, diz São Francisco de Sales, é no céu o que é num bosque a do rouxinol, que vence a de todas as aves. Numa palavra, o paraíso é a reunião de todos os gozos que se podem desejar.
Ó meu Deus! Eu desejo e Vos peço o paraíso, não tanto para Vos gozar, como para Vos amar. Suplico-Vos, para glória de vossa misericórdia, fazei que os bem-aventurados vejam abrasado em vosso amor um pecador que tantas vezes Vos ofendeu. Tomo a resolução de ser daqui por diante todo vosso e de não pensar senão em Vos amar. — Assisti-me com a vossa luz e a vossa graça, que me dê força para executar esta resolução que Vós mesmo pela vossa bondade me inspirais. — Ó Maria, vós que sois a Mãe da perseverança, impetrai-me a fidelidade em minha promessa. (*II 133.)
Referências:
(1) Ap. 21, 4.
(2) Ap. 21, 5.
(3) Sl. 83, 5.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 6-9)